E, o menino, a exemplo daquela criança peralta deixada pela repressão, no amontôo do canto, sonhando com pião em suas mãos, sem cordão, como na inexperiência de ser um ser que na real deixaria distante aquilo que precisaria crescer.
E, o menino, na fantasia sem fadas, nem estrelas, mas fazendo cintilar do seu condão, vagueia no recolhimento proibido de descobertas, sendo coberto, parecido, protegido, na posse de ríspidos tutelares.
E, o menino, sem infantilidade, nem bolas de gudê, torrões de barro sob as unhas, de perfil lindo, porém retido desabrocha na vida, mesmo envolto nas imposições do proibido, mais possuído às entranhas de adultos que nunca foram crianças.
E, o menino, sem cavalos de pau, pedala com os pés, não sabe o que é catraca, tão menos duas rodas sob um guidom.
E, o menino, sem papagaio e nem pipa, observa no ar uma linha estendida no seu próprio horizonte; direções às tomadas e retomadas.
E, o menino, por trás do portão como mourão, vigia com os olhos, auto indagação de um mundo de dentro para fora.
E, o menino, nos toques sublimes, distribui pela beleza, sua dosagem de indivíduo mesmo distante dos caminhões que pouco enxergou os "zinhos" dos caminhõezinhos.
E, o menino, quase um adulto maduro em miniatura caminha pausadamente na prisão de quatro paredes; não usa estilingue porque pedras não são usadas em almofadas de macios algodões.
E, o menino recolhido, imposto... cresce, torna-se um herói sem o super, por seus próprios punhos, moldado pela sua personalidade, sem braçadas, desfiando ondas do bem viver, construir, evoluir, vai além!...
E, o menino, brincando consigo mesmo transforma-se em um homem, pés firmes no chão, equilibra com os pés nos gestos das mãos, a sutileza de um corpo simétrico ao luxo da música, busca a voz à beira de um bailado.
E, o menino, como interprete, vivenciando emoções, incorpora corações alados, súditos reis, pobres mendigos, ricos prazeres... já... um menino artista.
E, o menino, vence barreiras, oculta sabedoria na sapiência da inteligência; corre aos campos acadêmicos, aperfeiçoa, vira um pássaro de asas enormes, sobrevoa pela mente a força do pensamento... aprende pela faculdade da vida, viver rumo ao seu próprio destino.
E, o menino, transforma-se num gigante muito rapidamente; dança pela vida, porque aprendeu consigo mesmo que o palco é tão somente dado ao luxo de alguém que vem como artista, ato por ato fecham-se as cortinas do seu cotidiano.
E, o menino, no seu peculiar carinho, riquíssimo de amor como um sonhador, olha para os lados, para o alto, almeja um cupido numa flor, na sua congênita bondade, afetuosa e pulsada vida de se doar.
E, o menino, carregando sensibilidade, chora pelas perdas, no abandono desconhece que a traição é o erguer o ganhar, não deixa apodrecer, porque não se contaminou com os mofos, mesmo sendo rodeado pelos podres.
E, o menino, alma limpa, sonha... dança com a vida, alegra com a música, leva nos passos todos os compassos, apontando dias inesquecíveis porque sua vida se resumia num palco.
E, o menino, se recolhe no seu camarim, olha no espelho, como antes no seu lar de menino. Transporta para um outro espaço, com passos lentos, afasta-se dos seus passos. Imaginou não ser mais o artista, tanto quanto, o sacerdócio que almejava, mas na profecia da alma transformada em arte sempre será o mesmo do palco da vida, da luta... a semente mágica na ciência do seu "eu infinito" de um grande educador.
E, o menino tornou-se estrela, gravita suavemente no angélico de leves plumas que o destacou nas alegorias do seu mundo.
E, o menino, sonhador poeta... soube ser o presente lapidado de bondade, ingenuidade de um sempre indefeso menino.
E, o menino, concomita com o amor, criação bela de grande descoberta mútua: o bem querer e amar, sentimento valioso acrescido aos afins do seu "eu".
E, o menino, irradia na emanação da alma a comunhão de um adulto menino, faz gerar o amor para o amor; a vida para os sonhos; o bem estar para o horizonte direcionado ao arco-íris do seu destino.
E, o menino, BRINCANDO DE VIVER na prosperidade, aprendeu que tem o seu dia especial... de um festim... de uma aurora amanhecida de mais um ano vivido às portas abertas junto de outro que se adentra em sua vida. Não lhe basta merecidos presentes, porque o seu próprio caminho no marco do seu aniversário representa símbolos de uma retrospectiva de uma vida, bem vivida, para o seu aprendizado evoluído.
E, o menino, é um OLÍMPICO, ergue na chama da liberdade as luzes que o faz apagar em todos os anos... MAIS UM ANO DE MENINO!
DIVERSO UNIVERSO DE CRÔNICAS
Autor do texto:
Rodolfo Antonio de Gaspari